sexta-feira, 27 de maio de 2011

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão, in 'Movimento Perpétuo'
 
 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Que Há em Mim é Sobretudo Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço…
                                                                Álvaro de Campos

domingo, 22 de maio de 2011

Novo

Visto que ultimamente achar que o meu blog está pouco dinâmico decidi criar uma página no facebook onde também colocarei as actualizações: http://www.facebook.com/pages/Viagem-Sem-Retorno/164517420279742
Espero que adiram. Continuação de boa viagem...

Farto

Hoje, para não variar muito, cansei-me de ser inteligente e de ver mais daquilo que queria. Preciso de ser leviano, preciso, preciso....

sábado, 21 de maio de 2011

Nutres-me?

Poderia desenhar-te as palavras mais belas, e profetizar o poema mais sonante. Mas a imensidão das minhas palavras camufla-se na necessidade que trago de me afogar na dimensão do teu ser.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Recantos & Prespectivas I

Inuaguro aqui uma rubrica, desta vez dedicada à fotografia. São pequenos momentos  do meu dia repletos de recantos e prespecitvas.







quarta-feira, 11 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Luz ao Fundo do Túnel

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."
Charles Chaplin

domingo, 8 de maio de 2011

Estado d'Alma

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros." 
(Clarice Lispector)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Diz-me Quem És Tu.. Dir-te-ei Quem És...

"Se queres ser cego, sê-lo-às...se podes olhar, vê; se podes ver, repara."
(José Saramago)

Encobriu os olhos, e deslocou a cabeça em movimentos laterais de ida e volta com o intuito de fazer-se deslizar nas mais afinadas cordas de um violino. Naquele instante era na sua conjuntura a mais bela harmonia, não a musical mas sim existencial.
João foi um combatente não da guerra, mas sim da vida. Foi capaz de escrever rapidamente e de outras vez de escrever rápido. Teve a maior fortuna do Mundo, mas também conquistou a pobreza. Viajou, sem nunca ter passaporte, sonhou sem nunca ter dormido, falou sem nunca ter pronunciado uma palavra. Morreu quando quis, revoltou quando regressou e amou sem nunca ter amado.
Ele foi feliz, fez-se mensagem de que na vida podermos ser o que quisermos, desde que não deixemos de ser nós próprios. Às noites, sou poeta. E tu, quem és?


terça-feira, 3 de maio de 2011

Pedaços de Ti

“Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa pela nossa vida passa sozinha, não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.”

Charles Chaplin