sexta-feira, 11 de maio de 2012

De Olhos Virados ao Passado


Teremos um dia a ousadia de visitar o passado, de aguentar o reencontro em que nada pode ser mudado? Talvez aí tenhamos a consciência, ultrapassada, da inutilidade humana, deste planeta viscosamente imbecil.
Hoje somos preenchidos por tudo e completos por nada. Não são materiais as carências humanas, estão além disso. Escasseiam os valores; deitados ao abandono, adormeceram no passado!
Encontro-me asfixiado pela necessidade que, eventualmente, há um “além” disto, um exemplo, eventualmente, de uma pró-pessoa actual. 
Provetura num futuro próxomo diremos "eu era/fiz aquilo?".




Rui Veloso - Cavaleiro Andante



Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras

Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe

Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou

Sempre que a rádio diga
Que a américa roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua

Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz

Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Corpos


O silêncio cai sobre a noite envergonhada e pulveriza os corpos com o odor intenso das vontades; as cortinas de linho deixam antever, no entretanto dos seus tecidos, este peculiar cair da noite.Da visão que separa sonhos e realidades, estão corpos nus. Vibram com o brotar das emoções, deslizam entre o físico ardente e o perceptível encarnar do sangue que flutua nas mãos carregadas do possuir.
A respiração vê-se seduzida pela quentura dos corpos, pelo escarne do divinal pecado.
Suspendem-se no “glamour” deste felino olhar que emana do silêncio, que quebra e enfeitiça os corpos, que cuspe fogo e deixam-se murmúrios de si…  


terça-feira, 8 de maio de 2012

Luz em Contrastes


Ainda que timidamente, o sol espreita aqui e ali. Sorri, irónico, e enrola-se de novo com as nuvens. Escuro…
E vai assim alternado entre o claro e o escuro, neste jogo de sombras, de contrastes. Mas ele nasce sempre, e amanhã, amanhã(?), amanhã é um novo dia, talvez com sombras no entretanto, mas ele nascerá de novo, porque ele nasce sempre!


segunda-feira, 7 de maio de 2012

"Mãe" - Miguel Torga

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim! 

Miguel Torga 


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Tudo É Foi


Porventura não tanto a vontade, mas eventualmente a necessidade que me atirar, hoje, para as palavras.  Ambiciono que elas carreguem o suor do quanto quero que não seja meu.
Sinto-me como um derrotado. Mas a sê-lo, ainda que o fosse pelas guerras, e não pela frustração. Persinto que dou passos efémeros e que nada tem a capacidade de ser digno ao equivalente dos meus sonhos. É como se estivesse à beira mar; o odor forte a invadir-me e que não molha-se. Fico pregado às rochas, deitando sonhos em pedras e navegando na brusquidão dos ventos, por entre o solo.
Sou um livre prisioneiro de mim, como estas palavras que descarto no papel e que lá fora, mesmo aqui ao lado da janela, não seguem rumos, são inválidas, inúteis. Estou hoje carregado pelos sonhos, sufocado pelas ambições e irrealmente vivo. As vitórias(!) fazem tombar as pálpebras e deixam-se em caminho virado para o passado, do paladar amargo de olhar para trás e de ver ao fundo (mas demasiado próximo) a vereda que aqui me deixou.
Aqui, à volta com os concepções, tenho dor, a garganta presa, o sustentar da respiração.
De que preciso? Direi, que nem eu o sei. Eventualmente de estar só, distante de tudo: deste papel sujo, deste bicho tecnológico, dos livros que me contam tudo aquilo que nem sei se precisava de saber existir.
Escorre nesta chuva de Maio, onde até o Outono decide visitar a Primavera, a saudade ingreme dos insignificantes da minha infância (perdida).
Agora? O que há no agora? Tenho tudo, ou quase tudo… e nada encontro. Os meus braços são curtos e frágeis para albergarem as minhas aspirações.
Dentro de semanas termino aquilo a que se chama de Secundário. Sairei de casa, irei para a faculdade. E daí? Trará a faculdade o jarro de onde preciso de afogar a minha sede? Estarei condenado aos meus frágeis sonhos?
Quero sentir o parar. Respirar. Sorrir (fundo). E ousar dizer “feliz”. Preciso de não precisar de dinheiro, de relógios, de telemóveis, de net’s e de todo o nojo que me rodeia. Deixar, debaixo dos pés, vícios, medos, ambições, sonhos, desenhos e até mesmo este asqueroso papel.
E aí, ficar assim:
- SÓ!