segunda-feira, 29 de abril de 2013

Dormi Contigo


Olho para cama e toda ela me parece conforto, quem sabe talvez a única capaz de consolar. Vejo-me no repasto dos seus lençóis, com a almofada a enxugar-me o cabelo e todos as minhas frustrações. Creio que só assim conseguirei pensar-me, ou mesmo esquecer-me.
Olho para a cama e, para mim, ela é um todo imóvel, não fala, ouve somente, quanto mais que não cochichará de nada sobre o quanto lhe tenho para dizer… Estará sempre ali, intacta, para mim, qualquer que seja a minha condição. Pode até não ter lençóis, sendo que ainda despida acolher-me-á.
Olho para cama e toda ela é uma abertura para o mundo próprio, onde esse mesmo mundo me desconhece e se perde.
Olho para a cama e toda ela é para mim o que preciso – o mais difícil e o mais profundo – paz!


Imaginação Inflamada


Sopro; foi este ápice que se ergueu, nesta noite, ao luar. De nada tinha de característica física, aliás trazia no seu regaço qualquer coisa de químico, de não material. Ascendia consigo a leveza sedutora do perfume imperceptível. No entretanto, o destino balança entre o ser, o estar e o fazer acontecer. É constrangedor a necessidade de reunião destes conceitos tão adversos… primeiro porque é preciso estar, e nesse instante ser-se (sendo isto a transformação do físico, que advém da presença corporal, para o estado de comparência mental) e eis que fazemos acontecer! O modo como o fazemos, a intensidade que lhe damos, ou mesmo a redundância com que percorremos, nada mais são que arestas deste prisma tricolor, ainda que muitas vezes na tentativa de dobrar o vértice para a aresta seguinte, para um novo auge do surgimento. É a tentativa da esperança máxima assim, como ao Inverno apetece a Primavera, ao Homem apetece a mudança.
Mais do que uma ambição é um sopro de uma imaginação inflamada…





segunda-feira, 22 de abril de 2013

Num País Chamado Terra


Houve, e ainda que em tempos, circunstâncias em que o álcool que me invadia o sangue era fonte, quase inesgotável, de partituras salpicadas de vidas. A dicotomia das palavras fluía com uma solvência natural e o seu real tacto era, inequivocamente, intocável!
Houve, em tempos, a necessidade de prenunciar esse laivos de palavras ao mundo, mas as forças tendiam em não tender para o papel, sendo que, inúmeras vezes, desconhecia a sua existência, a sua localização, o seu real valor. (Estava nos primórdios do coma).
Vivamente sóbrio, neste momento; minto(!): o sono apodera-se minuciosamente de mim. Enfrasco-me em água cristalina, na ânsia, frustrada, de conectar com essas entidades divinas do além, capazes, que sabe, de reconstruir todos os pigmentos que em tempos, como constatava, eram em mim toda uma realidade.