segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Porquê Direito?!


Creio que a minha vida assenta, essencialmente, no pensamento e na conduta humana. Seguindo esta ordem lógica de concepção o mais sensato seria ingressar num curso de Filosofia ou Teologia. Todavia, acredito que isso seria contributo decisivo para o meu suicídio mental, e, como tal, procurei algo mais concreto e exacto, onde não houvesse um lugar demasiado vago para a abstracção; uma fuga a pensamentos superiores, em suma!
Assim, aprendo a “avaliar” as acções das pessoas e a qualifica-las segundo normas preexistentes, de alguém, que, um dia, decidiu que os determinados actos/acções viam-se lacradas por actos/consequências.
Pessoalmente, ser aluno de Direito é enquadrar-me, é descer à terra, é tentar ser mais conciso e preciso.
Pensei, várias vezes, se esta seria a atitude mais sensata, se esta fuga seria a mais correcta. Hoje, passado sensivelmente um mês, creio que sim. Sinto-me apaixonado por tudo o que é mais concreto que eu (pelo antagonismo do meu ser). Todavia, fica entre a frincha da porta uma possibilidade para outros rumos, uma nova viagem… a luta (constante) pelo pensamento e pelas descobertas (nulas), porque sei que pensar é não perceber (concluir). 


A Dor da Máquina


Não, não me apetece exactamente nada. Hoje limitar-me-ei a ficar com os pés pousados na janela e a despejar palavras (algumas talvez sem nexo aparente). Ficarei apenas a absorver a solidão e a contemplar o cansaço. Sentirei as pernas dormentes, mas hoje prometo que ficarei assim – sem movimentos constrangedores. Tentarei não ser atraiçoado pelos pulmões, que podem eventualmente deixar de aspirar ar. Serei, rigorosamente, sim, rigorosamente, uma máquina. E nada mais me perturbará que o barulho, barulhento da máquina. Não haverá cedências para pensamentos (“pensar é não entender”), deixando-me exclusivamente ao rotativismo de uma máquina, da minha máquina e à corrente eléctrica que esvaia pelo meu físico e que dá tonalidade a este subscrito.
Desejo de tudo isto o infinito, e que o telemóvel se limite à sua insignificância, e que nada, mas mesmo nada, me faça desviar-se de mim. Isto porque todas as máquinas trabalham sozinhas, sendo eu incrivelmente uma máquina.
Escorre-me dor pelas costas; apetece-me ficar nu, como a cabra humanidade me trouxe, talvez pelas cegonhas que vejo ao largo olhar. Usufruo desta dor e absorvo-a como reflexão. Não ouso sequer estender a mão para um cigarro, ou tirar o isqueiro de fogo, garanti que ficaria assim até que a vida me queira viver, ou que eu suporte vivê-la.
Apetece-me indiscutivelmente banhar-me em lágrimas, mas este insuportável cansaço inunda-me interiormente e, com um egoísmo mecânico profundo, nem me põem água na retina.
Inspiro dor, tudo o que há em mim é puramente dor, gotejo dor, dor ancestral.
Prometi que não pensaria; se pensaram que pensei, não me digam… deixem-se a sós com a dor, precisamos de conversar…