quarta-feira, 30 de março de 2011

Ainda Pensas em Desistir?

«Podes ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não te esqueças de que a tua vida é a maior empresa do mundo. E podes evitar que ela vá à falência. Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por ti. Gostava que te lembrasses sempre de que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem desilusões. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas reflectir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender nos fracassos. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornares-te no autor da tua própria história. É atravessar desertos, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da tua alma. É agradecer a Deus de manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de ti mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para dizer “eu errei”. É ter ousadia para dizer “perdoa-me”. É ter sensibilidade para expressar “eu preciso de ti”. É ter capacidade de dizer “amo-te”. É ter humildade da receptividade. Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para poderes ser feliz…
E, quando errares, recomeça.
Pois assim descobrirás que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Usar as perdas para refinar a paciência. Usar as falhas para lapidar o prazer. Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.
Nunca desistas de ti.
Nunca desistas das pessoas que amas.
Nunca desistas de ser feliz, pois a vida é um espectáculo imperdível, ainda que se apresentem dezenas de factores a provarem o contrário.»
(Fernando Pessoa)



segunda-feira, 28 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tão Grande como a sua Profundeza


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Fernando Pessoa

domingo, 20 de março de 2011

Into the Wild

Into the Wild é baseado numa história verídica e no bestselling literário de Jon Krakauer. Depois de se graduar na Universidade de Emory em 1992, Christopher McCandless (Hirsch), estudante de topo e atleta, abandona as suas posses, oferecendo as suas poupanças de 24 mil dólares à caridade, para ir viver para o Alasca. Ao longo do seu caminho, Christopher encontra uma série de personagens que dão forma e sentido à sua vida.

Quanto custa para ser totalmente livre? Eu digo livre de fazer o que quer, ir onde quiser e viver completamente despreocupado com o dinheiro, a carreira, os amigos, a família… Pois a resposta está neste filme. Uma obra fantástica de Sean Penn que conta como um homem simplesmente conseguiu deixar tudo para trás e enbarcar numa jornada que o levaria a um único destino: a liberdade.







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"Quantas coisas já perdi, com medo de perder."

quarta-feira, 16 de março de 2011

Suícido


“O suicídio é a troca da absoluta certeza do sofrer, pela absoluta incerteza do nada.”

A cor pálida manchava-me o meu rosto. As mãos trémulas estavam cheias de coisa nenhuma, o andar perdera ritmo, a voz afirmação, o olhar profundeza, como se um vagabundo fosse, deveras, a minha identidade nula. Lamentavelmente, o meu anonimato era somente meu, pois os “atira agulhas” estavam continuamente preocupados em seguir-me com o seu afinado golpe de vista, para verificarem se eu era de verdade o irmão dele, um acto inédito para alguns! Ignorei e não processei respostas.

“Nunca tive sorte na vida, mas vou ver se agora consigo ter mais sorte e se vou ser mais feliz”. Quando li estas palavras não te levei a sério, como poderia? Quantas remas de papel já eu gastara em bolas de papel, em desenhos mal elaborados, e em palavras soltas, ou então a construir textos que só a mim me pertenciam que eram o espelhar das crises, quase intermináveis, da adolescência e da minha e nossa também cruel existência. Também tu tinhas o direito de o fazer, é óbvio.
Mas, estas frases e as demais, nas quais com rapidez e pouca pormenorização desfolhaste a tua vida, eram o presságio para o teu fim de vida. Não estavas com uma doença oncológica, nem em fase terminal de vida, muito pelo contrário, estavas, praticamente, no início dela, ou talvez não. Todavia, e apesar de não estares doente fisicamente, possuías o mais mortífero dos males: a doença da alma. Este teu último testemunho era o início do teu fim, do teu cansaço, e onde tiveste a infelicidade de ainda poderes escolher o teu fim, o suicídio.
Fui durante anos um comandante enfraquecido por vezes sem forças, outras em que a minha força era capaz de virar o mundo de pernas para o ar, que tantas vezes, mesmo tu não vendo, ou não querendo ver, te tentei estender o colete salva-vidas, mas ao qual recusaste sempre, pois eras, na tua ingenuidade, um bom nadador. Mal tu sabias, que como eu previa, que em mares altos as correntes, os tubarões e as baleias são reis do mar, ao qual não te deverias ter exposto. Poderias ter tentado transcender nem que fosse numa pequena embarcação pesqueira, mas como o fizeste não .
Tantas vezes visualizei o teu fim… E tantas vezes te disse as palavras que não querias ouvir, mas no fundo, e apesar de minha tenra idade, eram os concelhos certos. Tu não foste vítima de ti mesmo, mas sim desta vida macabra e por vezes tão pesada como a cruz que Cristo carregava, não no seu fim, mas sim no princípio do seu reino. Assim espero, que se passe o mesmo contigo, e que tal como to dizes seja o início da tua felicidade como pretendes. Foi como se tivessem tirado as rodas a um camião e nós lá fomos empurrando, sei que foi mãe que te fez falta e tudo o mais veio somente por acrescimento, do tipo causas e consequências que abordamos em Geografia…  
Prefiro acreditar que foi a mãe quem te chamou… E eu aqui contínuo. Ainda tenho um computador, uma televisão, um telemóvel (com que muitos fazem de verdadeiro lema de vida) mas o que me faz falta é de não te ouvir a bater à porta e chateado acordava sobressaltado porque já estavas atrasado para o trabalho.

A minha mãe em 2000 faleceu, o meu avó em 2005, e tu optaste por te antecipar e viajaste” em 2010 (não te condeno, foi a tua escolha). Mas sabes o que me consola ? É que o tempo passa, e como tudo é uma viagem sem retorno, estou mais próximo de vós.

P.S.: No dia 19 deste mês, faz meio ano que partiste e acredita que da modo que o fizeste não foste meramente fraco, tiveste a força que nunca terei e:
“Como foi bela a existência
De quem enfrentou a dor
Amassada no silêncio
Da arroxeada agonia
Com as lágrimas de esperança
Que a noite transforma em dia!”


segunda-feira, 14 de março de 2011

Confissão

"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — 
a da minha nascença e a da minha morte

Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza."

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

Em Construção...

"- Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou fazer um castelo."
 (Fernando Pessoa)



domingo, 13 de março de 2011

Do Outro Lado da Vida


Passei ao lado da vida
De uma vida que não vivi
Foi amor sem medida
E um dia te perdi

Mas sou alma nova
Calo a dor lá no fundo
Eu aceito a prova
Sou a outra face do mundo

Vou sair por essa avenida
Cantando o outro lado desta vida
Buscar em cada esquina
Um abraço, um olhar
Viver a minha sina
E voltar a sonhar

Abri minh´alma sofrida
Revelei segredos só meus
A ti te dei o meu ser
E na luz dos olhos teus

Não estou a teu lado
Já não há paixão, não
O amor ficou calado
Mas guardo a recordação

Vou sair por essa avenida
Cantando o outro lado desta vida
Buscar em cada esquina
Um abraço, um olhar
Viver a minha sina
E voltar a sonhar

E poder amar

Vou sair por essa avenida
Cantando o outro lado desta vida
Buscar em cada esquina
Um abraço, um olhar
Viver a minha sina
E voltar a sonhar

quinta-feira, 10 de março de 2011

Às Cegas


“O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo sem ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses”. 
(José Saramago)