quarta-feira, 16 de março de 2011

Suícido


“O suicídio é a troca da absoluta certeza do sofrer, pela absoluta incerteza do nada.”

A cor pálida manchava-me o meu rosto. As mãos trémulas estavam cheias de coisa nenhuma, o andar perdera ritmo, a voz afirmação, o olhar profundeza, como se um vagabundo fosse, deveras, a minha identidade nula. Lamentavelmente, o meu anonimato era somente meu, pois os “atira agulhas” estavam continuamente preocupados em seguir-me com o seu afinado golpe de vista, para verificarem se eu era de verdade o irmão dele, um acto inédito para alguns! Ignorei e não processei respostas.

“Nunca tive sorte na vida, mas vou ver se agora consigo ter mais sorte e se vou ser mais feliz”. Quando li estas palavras não te levei a sério, como poderia? Quantas remas de papel já eu gastara em bolas de papel, em desenhos mal elaborados, e em palavras soltas, ou então a construir textos que só a mim me pertenciam que eram o espelhar das crises, quase intermináveis, da adolescência e da minha e nossa também cruel existência. Também tu tinhas o direito de o fazer, é óbvio.
Mas, estas frases e as demais, nas quais com rapidez e pouca pormenorização desfolhaste a tua vida, eram o presságio para o teu fim de vida. Não estavas com uma doença oncológica, nem em fase terminal de vida, muito pelo contrário, estavas, praticamente, no início dela, ou talvez não. Todavia, e apesar de não estares doente fisicamente, possuías o mais mortífero dos males: a doença da alma. Este teu último testemunho era o início do teu fim, do teu cansaço, e onde tiveste a infelicidade de ainda poderes escolher o teu fim, o suicídio.
Fui durante anos um comandante enfraquecido por vezes sem forças, outras em que a minha força era capaz de virar o mundo de pernas para o ar, que tantas vezes, mesmo tu não vendo, ou não querendo ver, te tentei estender o colete salva-vidas, mas ao qual recusaste sempre, pois eras, na tua ingenuidade, um bom nadador. Mal tu sabias, que como eu previa, que em mares altos as correntes, os tubarões e as baleias são reis do mar, ao qual não te deverias ter exposto. Poderias ter tentado transcender nem que fosse numa pequena embarcação pesqueira, mas como o fizeste não .
Tantas vezes visualizei o teu fim… E tantas vezes te disse as palavras que não querias ouvir, mas no fundo, e apesar de minha tenra idade, eram os concelhos certos. Tu não foste vítima de ti mesmo, mas sim desta vida macabra e por vezes tão pesada como a cruz que Cristo carregava, não no seu fim, mas sim no princípio do seu reino. Assim espero, que se passe o mesmo contigo, e que tal como to dizes seja o início da tua felicidade como pretendes. Foi como se tivessem tirado as rodas a um camião e nós lá fomos empurrando, sei que foi mãe que te fez falta e tudo o mais veio somente por acrescimento, do tipo causas e consequências que abordamos em Geografia…  
Prefiro acreditar que foi a mãe quem te chamou… E eu aqui contínuo. Ainda tenho um computador, uma televisão, um telemóvel (com que muitos fazem de verdadeiro lema de vida) mas o que me faz falta é de não te ouvir a bater à porta e chateado acordava sobressaltado porque já estavas atrasado para o trabalho.

A minha mãe em 2000 faleceu, o meu avó em 2005, e tu optaste por te antecipar e viajaste” em 2010 (não te condeno, foi a tua escolha). Mas sabes o que me consola ? É que o tempo passa, e como tudo é uma viagem sem retorno, estou mais próximo de vós.

P.S.: No dia 19 deste mês, faz meio ano que partiste e acredita que da modo que o fizeste não foste meramente fraco, tiveste a força que nunca terei e:
“Como foi bela a existência
De quem enfrentou a dor
Amassada no silêncio
Da arroxeada agonia
Com as lágrimas de esperança
Que a noite transforma em dia!”


4 comentários:

  1. Fatástico (:

    Podes-me dizer qual o nome da música que se ouve quando entramos nos teu blog?
    Beijo

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  2. Vao estar sempre contigo, estejas onde estiveres.

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  3. Adorei , parabéns (:

    Tens talento , escreves com sentimento :$

    Obrigada .

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