Olho para cama e toda ela me
parece conforto, quem sabe talvez a única capaz de consolar. Vejo-me no repasto
dos seus lençóis, com a almofada a enxugar-me o cabelo e todos as minhas frustrações.
Creio que só assim conseguirei pensar-me, ou mesmo esquecer-me.
Olho para a cama e, para
mim, ela é um todo imóvel, não fala, ouve somente, quanto mais que não cochichará
de nada sobre o quanto lhe tenho para dizer… Estará sempre ali, intacta, para
mim, qualquer que seja a minha condição. Pode até não ter lençóis, sendo que
ainda despida acolher-me-á.
Olho para cama e toda ela é
uma abertura para o mundo próprio, onde esse mesmo mundo me desconhece e se
perde.
Olho para a cama e toda ela
é para mim o que preciso – o mais difícil e o mais profundo – paz!