24 de Setembro, de um passado demasiado próximo, 2000.
Dormia sobre a noite. Num estremecer acordo, e pronunciam “dorme”. Uma porta fecha-se.
Lá fora, por entre as entranhas da janela, pessoas falavam, sem nunca chegar a saber verdadeiramente que emoções trocavam entre si.
As horas passaram, suscito do sono como em qualquer outro dia, mas este não fora um dia comum, foi marca a fogo e hoje carrego-o em todas as jornadas da vida.
A tenra inocência de uma criança que via a avó e os tios a prepararem uma pequena mala. Na altura fiquei contente pois iria passar uma temporada a casa do meu tio, juntamente com os meus irmãos. O meu irmão mais velho não concordou com a ideia, recusou-se a ir connosco. No seu rosto corriam lágrimas ensanguentadas, argumentava que sabia o que se estava a passar e que já não era nenhuma criança. Talvez por ser o irmão mais velho percebesse (se é que alguém percebe) mais da vida do que eu e a minha irmã.
Os dias seguintes foram passados em casa dos meus tios, entre jogos, conversas e cantigas, os segundos, os minutos, as horas, os dias iam passando.
Numa terça-feira, ao acordar, a filha dos meus tios diz-me que a minha mãe faleceu. Chorei, mas acabei por não dar grande importância, afinal estava longamente habituado às intrujices que os meus primos que me tentavam empenhar.
Na semana seguinte regresso a casa, apesar das saudades dos meus pais, aquelas férias haviam sido muito divertidas.
Aquando da chegada cumprimento o meu pai e pergunto pela mãe (coisa típica de qualquer filho). A mãe não estava, pensei que tivesse ainda no hospital, pois ela tinha estado doente durante uns dias.
Semanas atrás tinha andado bastante preocupado: a minha mãe não anda muito bem, estivera com alguns problemas em respirar. Recordo-me que até rezei por ela enquanto descasávamos juntos, durante as tardes. Ainda que tenha ficado um pouco triste quando soube que tinha ido para o hospital, sabia que ia recuperar rapidamente.
É claro que íamos continuar a brincar juntos, a lavar o gato com champô, a dormir juntos, a queixar-me dos primos… e as corridas que a minha mãe fazia para me apanhar quando fazia alguma asneira, pois e as birras quando íamos passear ao Domingo. Certamente que iriam voltar a repetir-se.
Os anos passam e o tempo vai polvilhando as feridas do estado da alma com um pouco de mel, tentado adoçar a carne frígida da dor, da saudade profunda. A máquina de costura onde a minha mãe trabalhava encontra-se coberta com um lençol. O gato acabou por morrer afogado. A varanda onde bordava o linho, e eu ia metendo linha nas agulhas encontra-se desertificada.
Vim descobrindo que acabou por falecer, e já nada é igual. Tenho pena de o meu corpo de criança não ter tocado no seu caixão, de eu não lhe ter dado um último beijo, gostaria de lhe ter sentido o seu olfacto, nem que fosse por um mero momento. Nesse tempo era uma criança; hoje, já sou quase um homem, mãe.
Emocionante...consegui visualizar os sentimentos contidos no texto...parabéns.
ResponderExcluirlindo sem dúvida, emocionei-me !
ResponderExcluirés forte :)
incrivel tao novo e escreves assim :o
ResponderExcluirtambem gostei o teu blog, parabens. obrigado pelo coment.
beijo. um dia reencontra-la-as.