Sente-se o frio. De fora da janela sente-se o frio. As árvores estão despidas, as vinhas enrolam-se nos arames, aconchegas. As casas recatam-se em si mesmas e estão sós, dispersas na colina. Está frio e até o dia se sente ofegado pela noite, que cai ao delével sobre esta velha província. Está frio, e a lenha dá cor aos sonhos que se propagam ao longo das lareiras arcaicas, que tantas histórias recatam no seu tijolo burro.
As camas ressentem-se com o peso dos cobertores e as paredes vacilam e deixam transparecer aqui e ali o caruncho que perfuma fortemente as peculiares casas. Está frio, e os passeios tornam-se desertos de perda solitária. Está frio e sente-se no imaginário destas gentes a carga óssea desta vida madrasta. Está frio e os sorrisos debruçam-se sobre os cachecóis que rodeiam o pescoço.
Está frio, é certo, mas um dia ainda vão escorrer sobre o meu rosto gélido, as lágrimas frias da saudade deste frio quarto que para sempre vai ficar nas entranhas do coração.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Longe Demais
Há momentos em que o tempo é mais veloz que a vida; é por isso que muitas vezes apenas a vemos passar e a deixamos ir.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Poeta das Horas Vagas
É quando desligo a luz e o meu olhar penetra na imensidão do escuro, que me reencontro realmente. É quando faço de imóvel o corpo e dou corda aos sonhos da alma. É quando me transcendo. É quando o ruído dá tréguas e voz ao silêncio. É quando o meu ser dactilografa as minhas formas e o meu coração se rasga em emoções. É quando sofro nas lágrimas afogadas. É quando o estremecer da coluna vertebral me invade. É quando posso conduzir o mundo pelos meus sentidos. É quando o respirar é emoções. É quando faço melodias com o soprar do corpo. É quando deixou ao abandono a inércia. É quando sinto nascer o insaciável dentro de mim.
É quando(?)… sofro, rio, choro, minto, vagueio, executo, sou! É quando, sobre a penumbra destas quatro paredes amareladas, o Poeta das Horas Vagas é feliz!
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Crise (de Valores)
Estamos em crise. Sim, é um facto! Todavia as crises económicas vêm, por norma, acompanhadas de crises socias, políticas e sobretudo de crises de valores (para não dizer que esta última é a causadora de todas as outras).
Vejamos. Roubos, fugas fiscais, “falsos” desempregos, subsídios (e mais subsídios e mais subsídios e mais subsídios), greves, desvios, os velhos que são despejados nos lares e nas serras do interior e o que mais quiserem acrescentar a esta lista.
Na minha opinião, estes actos não passam de acções causados por uma escandalsa falta de valores. Se a crise veio acentuar? Talvez, mas pode não passar de um pretexto para se destaparem algumas evidências.
Já há vários anos debato que a raiz, para a possível resolução do problema, passa não por reformas (inúteis na grande parte das vezes), mas antes uma revolução no sistema de ensino. Passa por colocarem exigência (rigorosa) nos professores, por universalizarem o ensino e colocaram um travão na benevolência das passagens de ano e na treta das notas dos colégios privados. Avaliam os professores, “estiquem” os alunos, façam exames (dos bons) e deixem a “falsa” estatística de lado. Basta de novas oportunidades para onde as senhoras vão tricotar, vulgarizarem-se e pensar que estão de novo na adolescência! Basta que tenhamos de ir refazer o 12º ano para o ensino privado porque necessitamos de subir notas. Parece-me ridículo, ou então se tudo isto não resultar, não tem problema, vai-se para a faculdade privada (se os pais poderem pagar obviamente). Outra das situações que me cria uma certa confusão designa-se por cursos profissionais. Creio que o seu conceito primário é interessante , mas falta-lhe rigor para poder cumprir a sua missão, para deixar der ser considerado, de uma vez para sempre, como uma escapatória facilitada ao ensino regular. Mas também não há necessidade de concederem diplomas ao Domingo; trabalhar sim, mas não é necessário chegar a tanto!
Penso que no dia em que consigamos levar a bom porto esta revolução da mente, talvez tenhamos um parlamento mais decente, onde se faz mais que passear e exercitar as cordas vocais, um ensino onde as pessoas sentem prazer em aprender, um Centro de Desemprego eficiente e justo (sem malabarismos) e universidades que mais que lecionar alunos, formam Homens (dos bons), com qualidade e acima de tudo princípios.
Talvez um dia, num canteiro à beira mar plantado, chamado Portugal…
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Viagem Sem Retorno (Balanço)
"O tempo traz de tudo/ (ou quase tudo)/Tudo cria ou destrói/É esse o mal” é deste modo que em breves palavras que vos resumo o que tem sido a minha vida… Aliás, é o tempo, que vivemos inseparavelmente, que vem pousar nas feridas e dar ânimo à alma; é esse mesmo, o tempo, que nos leva para longe (por vezes de nós mesmos), nos torna distantes e saudosos de quem fomos outrora, de quem deixamos nas calçadas da vida; dos gestos às palavras, dos abraços às emoções, das conversas às lágrimas, mas com uma nostalgia conformista, saudável, que sou eu. Na verdade, tenho é saudade da minha infância, de quando as cores dos lápis de ceras eram puras e o meu traço era virgem. Julgo estar aí a dificuldade: no simples!
Oh(!) tempo antagónico, que trás de tudo, tem-me feito ver a vida como se ela fosse um prisma e eu a tivesse de observar pelos seus diversos ângulos. Essencialmente, penso que o sucesso da vida passa por isso, por sermos relativos e flexíveis, por sermos capazes de a alimentar e viver a nossa múltipla identidade. Aliás, não me quero definir, pois tudo aquilo que se define é limitado. Eu quero é viver o sol, e molhar-me na chuva, esperar a morte vivendo minuciosamente a vida, e aprender, em cada passo que dou, pois ela (a puta da vida) é feita de traços vermelhos que por vezes temos de ultrapassar, aí está a essência da vitória.
A Bíblia que mais preso é da vida pois ela é o meu Evangelho da Alma; diz-me o que eu tenho, ou devo, ou posso, ou sou obrigado, ou tento, ou não nada fazer: aprendo e excuto, como se fosse uma máquina, que na verdade sou, e gira em círculos profundos da ferrugem que, cravada na alma, a faz brotar como a flor que de manha saúda o dia (inspiração).
Apesar de ser um aventureiro questiono-me do que é a saudade (?). Só tem saudade aquele que viveu, portanto a saudade é prolongar e momento e desafiar o futuro. Não quero ser feliz nem lúcido, é feliz o doido que, no manicómio tem certezas (como Pessoa o afirmou, sendo que o seu maior medo era enlouquecer, isto é-me familiar, mas pronto). Eu, como não as tenho, às certezas e aliás duvido delas, sou infeliz com pitadas de felicidade. Pois ela (a puta da vida) não é para ser pensada, mas vivida, ou morta!
Despeço-me com a saudade da Inocência de quem vi ficar lá trás, no longínquo e que fez da saudade e das suas esperanças a sua (minha) impressão digital (identidade nula)!
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