quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Frio da Alma

Sente-se o frio. De fora da janela sente-se o frio. As árvores estão despidas, as vinhas enrolam-se nos arames, aconchegas. As casas recatam-se em si mesmas e estão sós, dispersas na colina. Está frio e até o dia se sente ofegado pela noite, que cai ao delével sobre esta velha província. Está frio, e a lenha dá cor aos sonhos que se propagam ao longo das lareiras arcaicas, que tantas histórias recatam no seu tijolo burro.
As camas ressentem-se com o peso dos cobertores e as paredes vacilam e deixam transparecer aqui e ali o caruncho que perfuma fortemente as peculiares casas. Está frio, e os passeios tornam-se desertos de perda solitária. Está frio e sente-se no imaginário destas gentes a carga óssea desta vida madrasta. Está frio e os sorrisos debruçam-se sobre os cachecóis que rodeiam o pescoço. 
Está frio, é certo, mas um dia ainda vão escorrer sobre o meu rosto gélido, as lágrimas frias da saudade deste frio quarto que para sempre vai ficar nas entranhas do coração.

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