Vamos escrever um Poema
Eu acho que não vamos escrever nada
Agora já não!
Como haveríamos de escrever?
Passaremos apenas os tentáculos pelo piano das palavras.
Oh! Como é constrangedor não ouvir o som deste piano
Que com tantos tentáculos podíamos polir
Todas as teclas, uma, por uma, a uma…
E poder averiguar a melodia da vida,
Na esperança de nos fundirmos aos seus acordes!
Mas apenas podemos dedilhar, passar o pincel
À deriva na tela virgem, por encontrar matiz
Para tal celeridade e decídua camada
Se a vida não valoriza tamanhas pretensões!
Ou seremos nós que a temos de estimar?
Ela passa e não nos roga;
Não nos alerta para o perigo!
De que a sua maior amante está a chegar.
A vida também é merecedora de comunhão…
O salvamento goteja-lhe pelos genes;
Por mais antagónica que esta seja.
Nada mais somos do que rudes figurantes,
Meros famintos de papéis principais
No teatro da vida onde a morte
Se assume heroína.
Cingimo-nos a testemunhas de boda,
Levando ao altar as alianças do acordo
E assistindo ao matrimónio que nos vai destronar.
Ficamo-nos pelo copo de água
Educadamente servis, fúteis e aparentemente relevantes.
No entretanto deste enlace, é a morte que nos aviva;
Sem ela a vida seria a melodia da tela – acordes de tom!
Arcando sem medo ou temor o cerco que nos coage
Retirando-nos o sabor de um ósculo com a vida.
Vida / morte: antagonistas ou condiscípulas?