quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Envelhec(s)er


Vamos escrever um Poema
Eu acho que não vamos escrever nada
Agora já não!
Como haveríamos de escrever?
Passaremos apenas os tentáculos pelo piano das palavras.
Oh! Como é constrangedor não ouvir o som deste piano
Que com tantos tentáculos podíamos polir
Todas as teclas, uma, por uma, a uma…
E poder averiguar a melodia da vida,
Na esperança de nos fundirmos aos seus acordes!
Mas apenas podemos dedilhar, passar o pincel
À deriva na tela virgem, por encontrar matiz
Para tal celeridade e decídua camada
Se a vida não valoriza tamanhas pretensões!
Ou seremos nós que a temos de estimar?
Ela passa e não nos roga;
Não nos alerta para o perigo!
De que a sua maior amante está a chegar.
A vida também é merecedora de comunhão…
O salvamento goteja-lhe pelos genes;
Por mais antagónica que esta seja.
Nada mais somos do que rudes figurantes,
Meros famintos de papéis principais
No teatro da vida onde a morte
Se assume heroína.
Cingimo-nos a testemunhas de boda,
Levando ao altar as alianças do acordo
E assistindo ao matrimónio que nos vai destronar.
Ficamo-nos pelo copo de água
Educadamente servis, fúteis e aparentemente relevantes.
No entretanto deste enlace, é a morte que nos aviva;
Sem ela a vida seria a melodia da tela – acordes de tom!
Arcando sem medo ou temor o cerco que nos coage
Retirando-nos o sabor de um ósculo com a vida.
Vida / morte: antagonistas ou condiscípulas? 


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Filosofias Clandestinas


A morte caminha a passo lento. Pegajosa como o vento, limiar do veneno da aranha; infimamente particularizada pelas pegadas templárias do bombear do miocárdio. Nutrida pela tentação dos sentidos e pela maior arma da nossa espécie – cérebro! Ocupamos este habitáculo interiormente cansado de sustento de si mesmo, dizemos que é mundo. Nutridos pela escassez da moléstia vida humana, pelo incrédulo paladar tenebroso do existir, pela incapacidade do prolongar a espírito para além do limiar das células. Vivemos a cada momento alimentados pela morte, que apesar de caminhar a passo indefinido penetra algures pelas intersecções de ruas e vidas.
Envoltos neste indesvendável caminho, apressadamente, cautelosamente, com medo ou com ganância, mas caminhamos cegamente; enquanto isto, a morte espia!       

    

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Linhas Cruzadas


A vida encontra-se perfumada pelos instintos da sobrevivência humana. Aqui e ali, seguem-se caminhos, obtêm-se direcções e questionam-se escolhas. Há uma infinidade de emoções reluzentes para lá dos vitrais das portadas. Encontra-se nestes fragmentos de vivências humanas peças que se adequam, que se interlaçam, que se evidenciam do tamanho do seu querer. A brisa deixa debaixo do degrau do calçado a coragem do avançar. Os corpos vêm-se abraçados por esta combustão de emoções, pela inacreditável necessidade do possuir. Flagram fluídos e murmúrios da tentação do ajuntamento das almas, da partilha, dos afectos, da sensibilidade do toque, da perigosidade do olhar (ainda que há distância), escorrendo timidez sobre os ombros, apoiado na brusca necessidade da saudade.
Floresce nesta cair de Outono a necessidade uma Primavera ofegante e vigora tentadora para um próximo encontro. Na verdade temos linhas e segmentos diferentes, mas não duvidemos pois há linhas que se cruzam! 

  

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Porquê Direito?!


Creio que a minha vida assenta, essencialmente, no pensamento e na conduta humana. Seguindo esta ordem lógica de concepção o mais sensato seria ingressar num curso de Filosofia ou Teologia. Todavia, acredito que isso seria contributo decisivo para o meu suicídio mental, e, como tal, procurei algo mais concreto e exacto, onde não houvesse um lugar demasiado vago para a abstracção; uma fuga a pensamentos superiores, em suma!
Assim, aprendo a “avaliar” as acções das pessoas e a qualifica-las segundo normas preexistentes, de alguém, que, um dia, decidiu que os determinados actos/acções viam-se lacradas por actos/consequências.
Pessoalmente, ser aluno de Direito é enquadrar-me, é descer à terra, é tentar ser mais conciso e preciso.
Pensei, várias vezes, se esta seria a atitude mais sensata, se esta fuga seria a mais correcta. Hoje, passado sensivelmente um mês, creio que sim. Sinto-me apaixonado por tudo o que é mais concreto que eu (pelo antagonismo do meu ser). Todavia, fica entre a frincha da porta uma possibilidade para outros rumos, uma nova viagem… a luta (constante) pelo pensamento e pelas descobertas (nulas), porque sei que pensar é não perceber (concluir). 


A Dor da Máquina


Não, não me apetece exactamente nada. Hoje limitar-me-ei a ficar com os pés pousados na janela e a despejar palavras (algumas talvez sem nexo aparente). Ficarei apenas a absorver a solidão e a contemplar o cansaço. Sentirei as pernas dormentes, mas hoje prometo que ficarei assim – sem movimentos constrangedores. Tentarei não ser atraiçoado pelos pulmões, que podem eventualmente deixar de aspirar ar. Serei, rigorosamente, sim, rigorosamente, uma máquina. E nada mais me perturbará que o barulho, barulhento da máquina. Não haverá cedências para pensamentos (“pensar é não entender”), deixando-me exclusivamente ao rotativismo de uma máquina, da minha máquina e à corrente eléctrica que esvaia pelo meu físico e que dá tonalidade a este subscrito.
Desejo de tudo isto o infinito, e que o telemóvel se limite à sua insignificância, e que nada, mas mesmo nada, me faça desviar-se de mim. Isto porque todas as máquinas trabalham sozinhas, sendo eu incrivelmente uma máquina.
Escorre-me dor pelas costas; apetece-me ficar nu, como a cabra humanidade me trouxe, talvez pelas cegonhas que vejo ao largo olhar. Usufruo desta dor e absorvo-a como reflexão. Não ouso sequer estender a mão para um cigarro, ou tirar o isqueiro de fogo, garanti que ficaria assim até que a vida me queira viver, ou que eu suporte vivê-la.
Apetece-me indiscutivelmente banhar-me em lágrimas, mas este insuportável cansaço inunda-me interiormente e, com um egoísmo mecânico profundo, nem me põem água na retina.
Inspiro dor, tudo o que há em mim é puramente dor, gotejo dor, dor ancestral.
Prometi que não pensaria; se pensaram que pensei, não me digam… deixem-se a sós com a dor, precisamos de conversar…


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Cigarro à Luar


Tenho desejo de um cigarro. Aliás, quero um cigarro; sentir a sua fragilidade; vê-lo a consumir-se, enquanto me consome, e estender o olhar afeado por esta miragem citadina; tomar o seu paladar infimamente e particularizar o seu esvair precoce entre a sensação dos dedos. Deixar-me abrangido pela quentura das paredes e emocionar-me com o cair da chuva. Debruçar o meu corpo sobre o vago (cigarro ardente), sentir a leveza das partículas, atraiçoar o pensamento, trair o destino, apunhalar a vida!
Fumar mata? E viver? Viver também não é mortal (confusão) – dilema?! Oh, como é constrangedor estar vivo.
Sou um louco insanável que se tenta preencher por uma razão, que jamais será absoluta, pelo seu próprio conceito ser privado e relativo.
Experimento a combustão do corpo, a química capaz de nutrir os poros, de dar gesto ao homem – expressão. Se ao menos tudo fosse exacto e não houvesse este luar perfumado de Outono. Se pelo menos fosse poeta e tivesse a capacidade de me enjugar neste papel e ver-me esvaído de mim. A minha complexidade cansa-me de verdade, enquanto o cigarro se dissipa…
Apago o cigarro.
Deito-me.
Finjo que não respiro.


Sociedade Crua

sexta-feira, 11 de maio de 2012

De Olhos Virados ao Passado


Teremos um dia a ousadia de visitar o passado, de aguentar o reencontro em que nada pode ser mudado? Talvez aí tenhamos a consciência, ultrapassada, da inutilidade humana, deste planeta viscosamente imbecil.
Hoje somos preenchidos por tudo e completos por nada. Não são materiais as carências humanas, estão além disso. Escasseiam os valores; deitados ao abandono, adormeceram no passado!
Encontro-me asfixiado pela necessidade que, eventualmente, há um “além” disto, um exemplo, eventualmente, de uma pró-pessoa actual. 
Provetura num futuro próxomo diremos "eu era/fiz aquilo?".




Rui Veloso - Cavaleiro Andante



Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras

Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe

Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou

Sempre que a rádio diga
Que a américa roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua

Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz

Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Corpos


O silêncio cai sobre a noite envergonhada e pulveriza os corpos com o odor intenso das vontades; as cortinas de linho deixam antever, no entretanto dos seus tecidos, este peculiar cair da noite.Da visão que separa sonhos e realidades, estão corpos nus. Vibram com o brotar das emoções, deslizam entre o físico ardente e o perceptível encarnar do sangue que flutua nas mãos carregadas do possuir.
A respiração vê-se seduzida pela quentura dos corpos, pelo escarne do divinal pecado.
Suspendem-se no “glamour” deste felino olhar que emana do silêncio, que quebra e enfeitiça os corpos, que cuspe fogo e deixam-se murmúrios de si…  


terça-feira, 8 de maio de 2012

Luz em Contrastes


Ainda que timidamente, o sol espreita aqui e ali. Sorri, irónico, e enrola-se de novo com as nuvens. Escuro…
E vai assim alternado entre o claro e o escuro, neste jogo de sombras, de contrastes. Mas ele nasce sempre, e amanhã, amanhã(?), amanhã é um novo dia, talvez com sombras no entretanto, mas ele nascerá de novo, porque ele nasce sempre!


segunda-feira, 7 de maio de 2012

"Mãe" - Miguel Torga

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim! 

Miguel Torga 


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Tudo É Foi


Porventura não tanto a vontade, mas eventualmente a necessidade que me atirar, hoje, para as palavras.  Ambiciono que elas carreguem o suor do quanto quero que não seja meu.
Sinto-me como um derrotado. Mas a sê-lo, ainda que o fosse pelas guerras, e não pela frustração. Persinto que dou passos efémeros e que nada tem a capacidade de ser digno ao equivalente dos meus sonhos. É como se estivesse à beira mar; o odor forte a invadir-me e que não molha-se. Fico pregado às rochas, deitando sonhos em pedras e navegando na brusquidão dos ventos, por entre o solo.
Sou um livre prisioneiro de mim, como estas palavras que descarto no papel e que lá fora, mesmo aqui ao lado da janela, não seguem rumos, são inválidas, inúteis. Estou hoje carregado pelos sonhos, sufocado pelas ambições e irrealmente vivo. As vitórias(!) fazem tombar as pálpebras e deixam-se em caminho virado para o passado, do paladar amargo de olhar para trás e de ver ao fundo (mas demasiado próximo) a vereda que aqui me deixou.
Aqui, à volta com os concepções, tenho dor, a garganta presa, o sustentar da respiração.
De que preciso? Direi, que nem eu o sei. Eventualmente de estar só, distante de tudo: deste papel sujo, deste bicho tecnológico, dos livros que me contam tudo aquilo que nem sei se precisava de saber existir.
Escorre nesta chuva de Maio, onde até o Outono decide visitar a Primavera, a saudade ingreme dos insignificantes da minha infância (perdida).
Agora? O que há no agora? Tenho tudo, ou quase tudo… e nada encontro. Os meus braços são curtos e frágeis para albergarem as minhas aspirações.
Dentro de semanas termino aquilo a que se chama de Secundário. Sairei de casa, irei para a faculdade. E daí? Trará a faculdade o jarro de onde preciso de afogar a minha sede? Estarei condenado aos meus frágeis sonhos?
Quero sentir o parar. Respirar. Sorrir (fundo). E ousar dizer “feliz”. Preciso de não precisar de dinheiro, de relógios, de telemóveis, de net’s e de todo o nojo que me rodeia. Deixar, debaixo dos pés, vícios, medos, ambições, sonhos, desenhos e até mesmo este asqueroso papel.
E aí, ficar assim:
- SÓ!




sexta-feira, 27 de abril de 2012

Humanamente Frágil


Tudo é mais fácil quando passámos ao lado.

Tudo é mais fácil quando não vemos.

Tudo é mais fácil quando não sentimos.

Tudo é mais fácil quando não tomámos o tacto.

Tudo é mais fácil quando não mergulhámos.

Tudo é mais fácil quando não compreendemos.

Tudo é mais fácil quando ficámos a norte do sul.

Tudo é mais fácil quando espreitámos e não abrimos.

Tudo é mais fácil quando deixámos desligado.

Tudo é mais fácil quando fingimos que não existimos.

 

 

 

domingo, 18 de março de 2012

Exterior / Interior

"Eu tenho um sonho que as minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver numa nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter."
 Martin Luther King


terça-feira, 6 de março de 2012

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Máquina do Tempo


É estranho pensar que amanhã, ao acordar, o mundo vai acordar estupidamente igual e que certamente o mesmo acontecerá em qualquer dia da minha existência, como sucedeu em 17 anos.